Foto: Reprodução / Facebook Dra. Letícia Costa A vereadora de São João de Meriti e atual pré-candidata a Deputada Federal pelo Partido Liberal (PL) Doutora Letícia Costa, foi flagrada em prática ilegal em um vídeo oferecendo atendimento médico gratuito em troca de votos.
A justificativa da candidata ao vídeo foi: “Isso aí é uma consequência, né? A gente ajudar o próximo. É uma consequência. É melhor do que oferecer R$ 100, R$ 200, como muitos fazem por aí. E não é o caso".
Mal sabe Letícia que isso é um crime gravíssimo chamado de Clientelismo (prática de eleição ilegal de certos políticos que consiste em privilegiar um número de pessoas em troca de seus votos; troca de favores entre quem detém o poder e quem vota). Na gravação, é possível ver com clareza a vereadora conversando com algumas pessoas. A filmagem foi feita há cerca de dez dias, no bairro Tomazinho, em São João de Meriti.
"Se a senhora quiser o atendimento comigo, passar por mim, pra eu cuidar do seu coração, a senhora tem que falar que vai votar em mim. Senão, não tem como atender. E não é só o seu. A senhora vai falar com uma amiga, uma vizinha", completou Letícia durante o vídeo.
O vídeo também mostra a sequência da conversa, onde um morador tenta convencer a vereadora de conseguir a consulta.
(Letícia) - Tá. Mas aí tem que ver isso direitinho.
(Homem) - Vota comigo mesmo.
(Letícia) - Porque se não vai me usar, entendeu? E a família.
(Homem) - Não vai te usar. Três vota comigo aqui oh.
(Letícia) - Tem que ver direitinho. Porque esses atendimentos que eu faço são pra pessoas amigas, entendeu?
Nas imagens, uma mulher que aguarda para falar com a pré-candidata parece se intimidar com o pedido de Letícia.
(Mulher) - Por acaso eu falei que não ia votar nela? Eu falei?
(Letícia) - Não, a senhora falou que não sabe, que vai ver ainda.
(Mulher) - Não, não minha filha. Até chegar as eleições, muitas águas ‘vai’ rolar, entendeu?
(Letícia) - É, mas aí se a senhora quiser o atendimento comigo, passar por mim, pra eu cuidar do seu coração, a senhora tem que falar que vai votar em mim. Senão, não tem como atender.
(Letícia) - Porque eu sou curta e grossa, do jeito que a senhora é eu sou também. Entendeu?
Em outro momento da gravação, a médica aparece oferecendo um atendimento de cardiologista no posto médico público.
"No posto, eu arrumo um cardiologista pra ela no posto", ofereceu a vereadora.
Foto: Reprodução / Facebook Dra. Letícia Costa
E isso tudo em um município de São João de Meriti onde muitos pacientes sofrem para conseguir atendimento na rede pública de saúde.
Na última terça-feira (26), a UPA Jardim Iris estava lotada. Pacientes reclamavam da demora no atendimento no local e da saúde precária que São João têm no momento.
"Meu atendimento, é só fazer as contas: Cheguei às 11h47. Agora são 16h54. São mais de cinco horas de fila de espera", disse Alan Oliveira.
A moradora Gabriela Lemos disse que, em meio ao caos na UPA, algumas pessoas conseguem furar a fila. Segundo ela, pacientes que chegaram na UPA com a indicação de algum padrinho político foram atendidos.
"Chegou aí várias pessoas que são amigos de vereadores. Eles falam o nome de vereadores, de pessoas daí de dentro. Aí falam nome de vereador, nome da pessoa e entram", denunciou Gabriela.
Por nota, Letícia Costa disse que nunca fez atendimento médico ou prestou socorro a alguém em troca de favor ou votos.
Caso semelhante que deu muito problema...
Na Bahia, um caso igual o de Leticia Costa, levou a cassação de um deputado que usou atendimentos médicos gratuitos para angariar votos. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral), aceitou um recurso do MPE-BA (Ministério Público Eleitoral da Bahia), para cassar o deputado estadual Targino Machado Pedreira Filho (DEM-BA) nas eleições de 2018.
O candidato foi acusado por abuso de poder econômico e político, após uma auditoria da Sesab (Secretaria de Saúde do Estado da Bahia), que apontou suspeita de troca de atendimentos médico por votos.
Segundo o MPE, o político aproveitou a condição de médico para realizar atendimentos gratuitos à população de Feira de Santana (BA), com a intenção de angariar votos para sua campanha.
De acordo com o relator do recurso na Corte Eleitoral, ministro Sérgio Banhos, ficou caracterizado o abuso do poder econômico com gravidade suficiente para afetar a higidez de todo o pleito eleitoral.
“A conduta filantrópica que, mesmo indiretamente, vincule o serviço oferecido à figura do agente prestador – que, no caso, é agente político atuante e com consequentes mandatos na Assembleia Legislativa do Estado da Bahia e então pré-candidato às Eleições de 2018 –, reverbera inegavelmente no contexto do pleito, causando distúrbios que impedem o desenvolvimento regular e igualitário do processo eleitoral”, destacou em seu voto.
Abuso do poder econômico e político
O abuso do poder econômico em matéria eleitoral é a utilização excessiva, antes ou durante a campanha eleitoral, de recursos financeiros ou patrimoniais, buscando beneficiar candidato, partido ou coligação, afetando, assim, a normalidade e a legitimidade das eleições.
Já o abuso do poder político ocorre nas situações em que o detentor do poder se vale de sua posição para agir de modo a influenciar o eleitor, em detrimento da liberdade de voto. Caracteriza-se, dessa forma, como ato de autoridade exercido em detrimento do voto.