07/09/2022 às 15h18min - Atualizada em 07/09/2022 às 15h18min

Como Azzy foi das batalhas de rima na periferia ao Rock in Rio: 'Os caras tiravam sarro da minha cara'

Rapper que já foi 'menina de cabelo azul do Poesia Acústica' celebra espaço para 'falar sobre uma mulher no rap, contar que já passou por abuso sexual e relacionamentos abusivos'.

Azzy já teve que responder a muito desaforo machista em batalhas de rimas até chegar ao Rock in Rio, onde se apresenta no dia 11 de setembro, no Espaço Favela.
 
Para além da rapper de cabelo azul que participou do "Poesia Acústica", Isabela Oliveira, de 21 anos, teve que lidar com o fato de muitas vezes ser a única mulher nas batalhas de rima das quais participou na periferia do Rio.

"Azzy" é "Isa" de trás para frente – o nome artístico que criou para si mesma ainda na pré-adolescência. Segundo ela, essa personagem simbolizava a coragem e a mulher forte que ela sonhava ser, capaz de enfrentar as dificuldades e viver da música.
 
"Sobre se sentir livre de verdade, sabe? Sempre me senti meio fora da caixa dentro de casa, senti que eu deveria estar no mundo, deveria conhecer o mundo. Deveria viver do meu sonho, que eu tinha que acreditar", diz a rapper.

Por trás da Azzy, está Isabela, é claro. Ela tem duas filhas, Lua, de quase quatro anos, e Dominic, de um. Encantada pela arte e pela música desde a infância, ela cresceu em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio, e teve como referências artistas dos anos 2000.
 
A menina fazia questão de participar de todos os eventos culturais do colégio, amava escrever poesias e chegou a fazer street dance, valsa e balé. A imaginação ia longe: ela se via em frente a plateias lotadas, atuando em filmes e novelas.

Porém, após ser vítima de abuso sexual aos 12 anos, Azzy saiu de casa e lembra que se envolveu com o tráfico de drogas. Enquanto isso, a paixão só crescia pelas batalhas de rima.
 
"Foi onde eu realmente bati com o pé na porta e falei: ‘Vou viver disso, isso me salva’. Eu sinto que isso me salva. Isso me faz feliz."

Como primeira mulher a participar das batalhas no Horto do Fonseca, em Niterói (RJ), Azzy sofreu violência de gênero ao começar a rimar. Ouviu muitos insultos machistas.

O rap é um dos movimentos mais machistas, por mais que a gente lute por causas, por movimentos. Os caras tiravam sarro da minha cara por eu estar ali, não ter outra menina”.

Foi dentro das batalhas de rimas que Azzy conheceu o produtor dela e foi apresentada para a Pinapple Storm Records – gravadora do "Poesia Acústica".
 
Ela participou da quarta edição do projeto de vídeos. O clipe de "Todo Mundo Odeia Acústico" soma quase 160 milhões de visualizações no YouTube. Com a exposição, passou a ser mais conhecida e saiu em turnê.

"Virei a 'menina de cabelo azul muito querida'", diz ela, resignada. A rapper ainda participou do “Poesia Acústica #6 - Era Uma Vez” e do "Poesia Acústica #11 - Nada Mudou ".
 
A representatividade feminina é um dos pilares da carreira de Azzy. O tema aparece em "Faixa Rosa", lançada em 2020: "Sabe que eu não dependo de ninguém / Tenho meu copão também / Desencosta, ô, meu bem, que eu quero dançar".

 
"Nunca imaginei essa Azzy das batalhas se tornar uma porta-voz tão grande. Ter esse espaço para falar sobre uma mulher no rap, contar que já passou por abuso sexual, relacionamentos abusivos, que sofreu hate na internet e violência de gênero."
 
"É muito importante a gente dar esse espaço para outras mulheres. Tenho certeza de que muitas vão se identificar comigo, assim como eu me identifico com várias outras".
 
Ela ainda conta sobre a relação próxima com os fãs, com direito a grupos em aplicativos de mensagens com mais de 200 integrantes.
 
O sonho de estar na frente das telas também vai se tornar realidade. A cantora foi convidada para atuar no segundo filme produzido por Cleo Pires, "Me Tira da Mira 2".
 

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