31/05/2024 às 16h23min - Atualizada em 11/06/2024 às 12h30min

JULIANA DRUMOND (PRÉ-CANDIDATA A PREFEITA DE SÃO JOÃO DE MERITI/RJ)

Juliana Drumond é pré-candidata a prefeita de São João de Meriti. Mãe de Ana Julia, de 9 anos, é militante da Ação Negra e historiadora. Atuando como Coordenadora Geral do SEPE (Núcleo São João de Meriti) e professora da rede estadual, Juliana tem uma forte ligação com a educação e os movimentos sociais. Presidenta do PSOL na sua cidade, ela também participa ativamente da Coletiva de Mulheres Margaridas, promovendo a luta por direitos e igualdade. Com sua experiência e dedicação, Juliana se lança como pré-candidata, comprometida com o desenvolvimento e bem-estar de São João de Meriti.

Redação
Divulgação
O Vira Notícia está começando uma série de entrevistas com pré-candidatos a prefeito em várias cidades do Brasil. Todos os candidatos foram convidados e receberam a mesma entrevista. Elas serão publicadas na íntegra, conforme enviadas por e-mail para nossa redação.

VIRA NOTÍCIA -  POR QUE A SENHORA RESOLVEU LANÇAR A PRÉ-CANDIDATURA À PREFEITA?
jULIANA DRUMOND - Então, a ideia da pré-candidatura foi muito uma demanda coletiva, em parte dos movimentos, do próprio partido. A gente vem, desde 2022, construindo um debate na cidade de um fórum de partidos progressistas de esquerda que a gente atuou junto na eleição do presidente Lula em 2022. E de lá pra cá a gente vinha construindo alternativas de pensar a cidade conjuntamente dentro desse campo. E aí esse campo foi se esfacelando, principalmente no ano passado (2023), o que fez com que a gente não tivesse unidade pra pensar um nome, mas também não tinha nenhum nome posto. Alguns partidos não se posicionaram  sobre o que seria a disputa eleitoral majoritária, muito preocupados na construção das nominatas, outros já foram para o campo da direita e aí houve uma demanda coletiva de que o meu nome seria um nome que representava esse grupo do campo progressista, já por uma atuação que tenho na cidade, também pela representatividade, uma mulher negra que era comprometida com as pautas desse campo. E aí a partir disso a gente tomou a decisão coletiva dentro da federação (PSOL/REDE) de lançar minha pré-candidatura a prefeita.
 
VN -  PENSANDO OS PRINCIPAIS PONTOS DE DEBATE PÚBLICO COMO SAÚDE, EDUCAÇÃO E SEGURANÇA, COMO A SENHORA PENSA TRABALHAR ESSAS SECRETARIAS?
JD - Fazendo o serviço público funcionar de fato. Hoje a gente recebe no município um montante bastante alto de verbas pra saúde e pra educação, e aí o que a gente percebe é uma má gestão dessa verba que chega para o município. Então hoje, o principal problema não é que não venha dinheiro pra saúde, que não venha dinheiro pra educação, tem uma má gestão desse recurso público. Então, fazer o serviço público funcionar garantindo a valorização dos profissionais e também que esse serviço funcione na ponta para as pessoas é o que é possível e capaz de mudar a trajetória do serviço público na cidade. Então isso a gente já tem muito desenhado pra saúde e educação. Existem as verbas. Existem parâmetros nacionais, inclusive, que não são cumpridos na cidade. Então acho que isso é um caminho. E pra segurança pública é pensar, de fato, qual o papel do município na segurança pública. Hoje a gente não tem esse debate no município, então isso é uma frente de trabalho que a gente já está se dedicando, que é pensar qual é o papel do município, pensar que São João pode ser, inclusive, um modelo nacional pra gente ter uma política de segurança pública a nível municipal cuidando da questão da preservação e da prevenção de pequenos delitos. Que a guarda civil municipal atue na prevenção de pequenos delitos e principalmente garantia de oportunidades pra juventude pra que dentro desse cenário de insegurança a gente comece a criar outras alternativas de sociabilidade para a população. E aí pensando o serviço público de um modo geral na cidade a gente precisa estabelecer e ampliar mecanismos de fiscalização e transparência. Hoje não existe transparência nas verbas públicas na cidade e se a gente garante só isso, sem implementar mais nada – óbvio que não é  a nossa ideia -, se a gente garante só a transparência e a fiscalização dos gastos públicos a gente já tem outro patamar de entrega de serviço público na cidade.

VN - COMO TRABALHAR O IMPULSIONAMENTO DA GERAÇÃO DE EMPREGO NO MUNICÍPIO?
JD - Em 2020, quando estive na chapa do PSOL como candidata a vice-prefeita já começamos a fazer esse debate, sobre a criação da CASA DO EMPREENDEDOR, que será um espaço onde a gente possa impulsionar e fortalecer o trabalho dos microempreendedores da cidade e dar embasamento técnico para que essas pessoas e pequenas empresas, essa galera que está no “corre” consiga se manter. E vale a pena dizer que mais de 70% da população não trabalha com carteira assinada. Então é preciso ter muita atenção pra que as pessoas que estão na fase de emprego e renda, principalmente microempreendedores tenham investimento técnico e financeiro a partir de políticas públicas. E é preciso pensar essa geração de emprego e renda a partir de marcadores de gênero, raça/etnia é muito importante. Para isso, fazer parcerias com as grandes empresas que estão estabelecidas na cidade para o compromisso de geração de emprego da população local. Isso é um caminho para se começar a pensar, inclusive, na criação de uma moeda local para fomentar a economia local e solidária, ao estilo do que tem em Maricá, e com isso fomentar o comércio e a geração de emprego e renda na cidade.

VN - NA GESTÃO MUNICIPAL, MUITAS VEZES A CULTURA É DEIXADA EM SEGUNDO PLANO. EXISTE ALGUM PROJETO DA SENHORA PARA FOMENTAR ESSE SETOR?
JD - Na verdade os artistas de São João estão de parabéns e são excepcionais, porque à revelia de tudo, têm desenvolvido um ótimo trabalho de cultura. E vale dizer que em São João nós não temos uma secretaria de cultura. Eu acho que sentando na cadeira da prefeitura, no primeiro dia, tem que ter uma secretaria de cultura. Mas para além disso, é preciso criar alternativas de fomento para os artistas da cidade. As leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc mostraram que com impulsionamento de políticas públicas é possível fazer muita coisa. Então é preciso fazer parcerias para que os profissionais do município possam ser reconhecidos e ter espaço. Se a gente garante suporte financeiro para que eles desenvolvam seu trabalho nas praças a gente consegue ter uma cidade melhor, com mais acesso à cultura e valorizar os artistas daqui e é preciso pensar as escolas como espaços que podem ser abertos para a cultura. E avançar com políticas públicas de teatro e cinema que são coisas que a gente tem na cidade, mas ainda no âmbito privado e pensar isso como política pública é muito importante.

VN - O GRANDE PROBLEMA DE VÁRIAS PREFEITURAS DO PAÍS É A QUESTÃO DA MOBILIDADE URBANA, QUAIS SEUS PROJETOS PARA O MUNICÍPIO?
JD - Aqui em São João temos alguns problemas na mobilidade urbana e a gente está muito atrasado em um debate que o mundo todo vem fazendo. Então têm algumas coisas que são de caráter técnico que é preciso rever, fiscalizar e reavaliar o que a gente tem hoje de contrato com as empresas de ônibus é muito importante. Começar a construir alternativas pra que a médio e longo prazo a gente tenha a possibilidade de transporte com tarifa zero é muito importante. A gente precisa também discutir sobre o bilhete único intermunicipal, para integração de dois modais (duas passagens). Alguns lugares da cidade, como quem mora em Edem, tem muita dificuldade para chegar em outras partes do município, mesmo São João sendo tão pequeno. Então essas alternativas intermunicipais de ônibus são muito importantes, pois são o meio mais usado na cidade. Mas para além disso, pensar alternativas sustentáveis. A gente não tem ciclovias, é preciso pensar sobre isso, não só pela questão da mobilidade, mas também do meio ambiente. Pensar também, com a segurança pública, modos mais seguros, principalmente, para que as mulheres possam se locomover no município com mais segurança.

JN - COMO A SENHORA ESTÁ PLANEJANDO A ARTICULAÇÃO POLÍTICA TANTO NO ÂMBITO MUNICIPAL, COMO ESTADUAL E FEDERAL PARA PODER CRIAR UM PLANO DE TRABALHO QUE A POPULAÇÃO ABRACE?
JD - Hoje nós temos um governo municipal que não dialoga com o governo federal e também não dialoga com a população. Eu acho que estamos muito qualificados para poder fazer essa articulação, que é colocar São João dentro das articulações e debates que têm sido feitos no Rio de Janeiro e no âmbito nacional através de parcerias com o governo Lula. É preciso pensar parcerias com as secretarias do governo Lula que são muito importantes para a cidade. Parcerias na saúde, educação e também outras como a secretaria nacional de periferias, que faz um debate que é muito urgente para nós, que é a questão climática nas periferias. Então a partir do momento que a população entende que existem políticas públicas no âmbito nacional e estadual que podem chegar a São João de Meriti elas vão se sentir a vontade para fazer esse debate, até porque é a própria população que tem condições de apresentar suas demandas de políticas públicas para o seu dia a dia e ser impactada pela presença dessas políticas, da verba pública, com a presença dos diversos pactos que foram lançados desde 2022 e que não faz parte do nosso cenário municipal.

VN - COMO A SENHORA ANALISA O ATUAL CENÁRIO POLÍTICO DO MUNICÍPIO?
JD - É caótico e violento. É machista, misógino, racista, mas para além disso, o que a gente vê é uma grande disputa pessoal de diversos grupos que escolhem um nome para representá-los. E a partir disso é uma briga pelo poder e aí é muito sintomático quando a gente pensa que os dois principais candidatos em projeção de votos. A eleição de 2020 foi a mais violenta que tivemos nos últimos tempos e isso já está se desenhando para 2024 e a gente tem dois homens que se declaram oposição um ao outro, mas que estão dentro do mesmo campo político. Foram os dois candidatos que em 2022 estiveram com Bolsonaro e Claudio Castro. Então a gente não vê uma disputa de projeto político. A concepção de política é igual. O que a gente vê é uma disputa de qual grupo vai se manter no poder. Eu acho que a cidade perde muito quando a gente tem um cenário de disputa política em que o projeto é o mesmo.

VN -  A POLÍTICA ESTÁ CADA VEZ MAIS POLARIZADA NO PAÍS, QUAL POLO A SENHORA SE CLASSIFICA: ESQUERDA, DIREITA OU CENTRO? E POR QUE?
JD - Eu sou de esquerda, porque sou socialista. Faço parte do Partido Socialismo e Liberdade. Pra além disso, é uma tarefa do nosso campo lutar pela democracia e contra o avanço do fascismo.

VN - COMO A SENHORA PRETENDE TRABALHAR A COMUNICAÇÃO COM OS ELEITORES e ELEITORAS? PRETENDE FAZER UMA CAMPANHA PARTICIPATIVA?
JD - Sim, pretendo uma campanha com ampla participação da população. Em 2020, quando fui candidata à vice-prefeita, já conseguimos isso. Tivemos um plano de governo construído com os movimentos sociais. Estávamos em uma pandemia e conseguimos construir alternativas virtuais para garantir isso. E já estamos mantendo isso na nossa pré-campanha. Então já liberamos um formulário on-line para receber propostas e estamos montando grupos temáticos no Whatsapp para construir propostas para a cidade, mas estar na rua, ouvindo as pessoas é fundamental para que elas se incluam nesse processo e a gente consiga ampliar cada vez mais a participação popular nessa pré-campanha e futuramente na construção da candidatura.

VN - QUAL MENSAGEM A SENHORA DEIXARIA PARA OS ELEITORES E ELEITORAS DO MUNICÍPIO?
JD - Nada sobre nós sem nós. A política é decidida e definida por alguém e se não formos nós a fazê-lo, alguém fará por nós. O que os poderosos da cidade têm feito até agora não tem melhorado a vida do povo, não tem nos representado. Então é conosco, juntos, reivindicando os espaços de poder e fazendo a política no chão do território. A gente vai conseguir e é possível construir uma cidade melhor.

VN - QUAL A PRINCIPAL BANDEIRA DA SUA CAMPANHA? (TEMA LIVRE)
JD - Uma cidade melhor para as mulheres é uma cidade melhor para todo mundo. A gente entende que garantir que as pessoas que acessam as políticas públicas e a gente está falando de uma cidade composta majoritariamente por mulheres, em que são elas as responsáveis por marcar consultas, por levar seus familiares. Então quando a gente leva em conta as demandas das mulheres a gente está entendendo que toda a cidade pode ter acesso as políticas públicas com dignidade.
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