22/07/2022 às 10h05min - Atualizada em 22/07/2022 às 10h05min

Consultório de médico suspeito de manter paciente em cárcere privado negociava cirurgias no carnê

Interessados poderiam quitar o carnê em até um ano, pagar o saldo do valor da cirurgia no cartão de crédito e renegociar caso não conseguisse cumprir o prazo.

Por Eliane Santos, g1 Rio
Médico é preso por suspeita de manter paciente em cárcere privado no RJ — Foto: Reprodução/TV Globo
Facilitar para atrair uma clientela que não poderia pagar por uma cirurgia plástica. Essa era dinâmica no consultório e no Hospital Santa Branca, de propriedade do médico Bolívar Guerrero Silva, preso no dia 18 de julho pela suspeita de manter uma paciente em cárcere privado para esconder possíveis erros médicos em suas cirurgias.

Guerrero contava com um time de divulgadoras do seu trabalho que atuava em grupos de Whatsapp e redes sociais, que atraía a clientela oferecendo cirurgias plásticas com preços abaixo do mercado e facilidade no pagamento.

Os interessados em operar com o médico equatoriano poderiam pagar à vista, parcelado no cartão e, quando o cliente não dispunha de nenhum desses mecanismos, poderia usar um carnê da clínica para poder iniciar o parcelamento do seu procedimento.



Como funcionava o carnê?
  • O chamado Carnê de Cirurgia Programada era distribuído todas as terças e quartas com uma consulta incluída.
  • O interessado agendava a consulta para um desses dias e pagava o valor de R$ 1 mil de entrada da cirurgia e ter acesso ao carnê.
  • O valor restante da cirurgia poderia ser parcelado em até 12 vezes ou ainda em parcelas menores com um saldo a ser pago no dia da cirurgia no cartão.
Assim, um paciente cujo procedimento custasse R$ 15 mil, por exemplo, poderia:
  • Dar R$ 1 mil para pegar o carnê e negociar 12 parcelas do saldo de R$ 14 mil nele, com 12 de R$ 1.1666;
  • Dar R$ 1 mil para pegar o carnê, negociar 12 parcelas de R$ 583,33 nele e quitar o saldo de R$ 7 mil no dia da cirurgia à vista ou parcelado no cartão do paciente.
  • A ideia é que o paciente/cliente quitasse e marcasse seu procedimento em até um ano, podendo realizar antes – desde que quitasse seu carnê/dívida.

Modelo de carnê — Foto: Reprodução/Redes sociais
 
Caso a pessoa tivesse algum imprevisto e não conseguisse pagar e operar em um ano, poderia atualizar o carnê.

Em caso de desistência, os divulgadores afirmam que apenas o dinheiro da consulta inicial seria descontado do valor já pago e o restante devolvido.

Divulgação incluía pacote de cirurgias 'X-Tudão'

O time de divulgadores de Bolívar tentavam vender o máximo de procedimentos estéticos e, claro com a mesma facilidade. Um deles foi apelidado de X-Tudão, que incluía de quatro a cinco procedimentos estéticos.

Aderindo ao pacote X-Tudão, a cliente teria direito:
  • Lipoaspiração - técnica que através da sucção retira o excesso de gordura de uma determinada região do corpo.
  • Abdominoplastia - cirurgia plástica abdominal para retirada do excesso de pele na região.
  • Lipoenxertia - Lipoenxertia é uma técnica de cirurgia plástica que usa a gordura do próprio corpo para preencher, definir ou dar volume a certas partes do corpo. Em geral, as clientes optavam por colocar a gordura no bumbum
  • Mastopexia - cirurgia plástica para levantar as mamas. Pode ser feita simples ou com colocação de silicone.

X-Tudão sendo divulgado — Foto: Reprodução
 
A prisão do médico

Bolívar Guerrero Silva foi preso no dia 18 de julho quando estava dentro do centro cirúrgico do Hospital Santa Branca, em Duque de Caxias. Segundo a polícia, ele mantinha uma mulher em cárcere privado depois que ela teve complicações depois de uma cirurgia de abdominoplastia e está em estado grave.

A mulher, de nome Daiana Cavalcanti vinha tentanto ser transferida de hospital, mas o cirurgião dificultou a transferência, mesmo com duas liminares da Justiça.

Daiana está internada desde junho desse ano no Hospital Santa Branca, e foi transferida na manhã dest quinta-feira (21) para o Hospital Geral de Bonsucesso, na Zona Norte do Rio.

Bolívar responde a pelo menos 19 processos na Justiça por erros médicos e teve sua prisão temporária mantida pela Justiça após audiência de custódia.

Após a divulgação do caso de Daiana, pelo menos 11 mulheres já compareceram à Delegacia da Mulher de Duque de Caxias para denunciar o médico. Em um dos casos, familiares de um jovem foram ao local denunciar que suspeitam que a familar tenha morrido por erro médico após um procedimento, mas teve a morte atestada como complicações por Covid.

 
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